Existem alguns aspectos sobre os quais diversas escolas de filosofia,
religiões e modelos de conduta espiritual convergem. Um desses pontos
em que parece haver grande concordância é apontar o engano que há no
materialismo, ou seja, em buscar a felicidade através das posses
materiais. Um dos expoentes dessa perspectiva é Francisco de Assis, que levou uma vida de pobreza e mendicância. Ouvimos, então, há milênios, que
cultivar uma vida focada em bens materiais não é o caminho para a paz e a
felicidade. Mas, se olharmos para a sociedade contemporânea, parece que
estamos bastante distantes dessa mensagem.
Embora já seja motivo de atenção da filosofia e das religiões há
muito tempo, as consequências do materialismo têm sido também objeto de
diversas pesquisas realizadas por psicólogos. Os cientistas parecem
concordar que o materialismo é um obstáculo ao bem estar. Em um artigo escrito para o jornal inglês “The Guardian”,
George Monbiot levanta uma série de estudos mostrando que o apego às
posses não apenas nos torna pessoas piores, mas também torna nossas
vidas piores.
Talvez seja importante, nesse ponto, esclarecer um pouco mais o que
se chama de materialismo. O materialismo não se refere a ser rico ou
pobre, ou à satisfação das necessidades básicas que envolvem viver
dignamente. O materialismo aqui é um sistema de valores orientado para a
aquisição de bens materiais e para a repercussão social disso, o que
significa viver em função de possuir, por conta da preocupação que se
tem com a própria imagem para os outros. Nesse aspecto, não importa se
você é rico ou pobre: a questão é o quanto você vive em função dos seus bens ou do desejo de possui-los. Você pode ser pobre e materialista, como também rico e não materialista.
Em seu artigo, Monbiot mostra estudos relacionando o materialismo a:
- piores relacionamentos
- falta de empatia
- isolamento
- ansiedade
- depressão
- falta de senso de propósito na vida
- infelicidade
Já se sabia que o materialismo andava junto com todos esses fatores.
Entretanto, estudos mais recentes mostram que pode haver aí uma relação
causal: quanto mais materialista você é, menor o seu bem estar. Em vez
de fazer bem, o acúmulo de posses pode aumentar suas preocupações,
ansiedade e fazer com que você se torne uma pessoa mais egoísta. Parece
que a aquisição de bens materiais não têm cumprido a expectativa que
observamos em propagandas: a felicidade prometida não está no shopping
center.
Não é difícil entender o processo. O que estamos buscando quando
compramos, quando consumimos — às vezes de maneira compulsiva? O que
está acontecendo quando colocamos todas as nossas expectativas na nossa
próxima aquisição? Estamos querendo preencher aquele vazio essencial que
todos nós temos. Queremos ser felizes e nos sentir melhor. E o
materialismo parece ser uma maneira lógica, pois basta ligarmos a TV
para recebermos inúmeras mensagens dizendo que se focarmos em ter mais,
nos sentiremos melhor. E de fato nos sentimos melhores, por um breve
momento. Até que a excitação da compra passe ou a fatura do cartão de
crédito chegue. É possível que, depois, você se sinta ainda pior. As
companhias não estão preocupadas com a sua felicidade, por mais que suas
propagandas digam o contrário. Elas tem apenas uma função, que é gerar
lucro, a qualquer custo. A única felicidade com a qual elas se preocupam
é a dos seus acionistas. Ou seja, fomos enganados. Fomos levados a
procurar a resposta no lugar errado.
Mas saber onde a resposta não está pode nos dar dicas sobre outras
possibilidades para as quais podemos olhar. Se sabemos que o
materialismo nos faz mal, talvez isso esteja apontando para aquilo que
nos faz bem. E talvez o bem estar esteja justamente no lado oposto.
Diversas pesquisas mostram que há duas condutas associadas a maiores
níveis de felicidade: generosidade e gratidão. Reconhecer o valor
daquilo que já se tem, ser capaz de se desapegar da busca por bens
materiais e, mais ainda, conseguir abrir mão de algo que é seu pelo bem
de outra pessoa são atitudes relacionadas com maior bem estar.
Fonte: https://s.dicio.com.br/materialista.jpg
Essa é mais uma coisa que não é novidade. Ouvimos isso há milênios,
mas ainda temos dificuldade em praticar essas atitudes. Sempre temos, no
entanto, a chance de começar a tentar. Até porque, nesse aspecto, você
não precisa de pesquisas científicas dizendo o que é melhor ou pior pra a
sua vida: você pode experimentar e concluir por conta própria. E se
você já buscou no materialismo uma felicidade que não alcançou, não
custa nada tentar o contrário, agindo com compaixão, generosidade e
gratidão. Desconfio que você vai ter uma vida melhor. E, mesmo que não
dê certo, você vai ter tornado melhor a vida das pessoas à sua volta.
"O mundo material existe, mas é um realidade temporária como o nosso corpo físico e carnal" .
Anderson Sampaio
Fonte:
http://vidaboa.net/2013/12/16/materialismo-e-infelicidade/
https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/filosofia/materialismo
https://tucurui.portaldacidade.com/noticias/educacao/materialismo-voce-pode-estar-prejudicando-sua-vida-4649
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