A vida espiritual de todo cristão
passa por diversas fases. Uma delas, bastante difícil, é aquela chamada
de "aridez", na qual a alma parece estar num deserto e se caracteriza
por uma espécie de falta de apetite espiritual, um fastio. Nessa fase,
estar com Deus, sobretudo na oração pessoal, torna-se um fardo.

A
aridez do espírito nada tem a ver com a chamada "noite escura da alma",
oriunda do pensamento de São João da Cruz, que se constitui numa
purificação passiva da alma perpetrada por Deus e endereçada às almas
que estão mais avançadas espiritualmente e é algo incomum. Para os
demais, principiantes na vida espiritual, por assim dizer, o que ocorre é
a aridez espiritual. Como lidar com ela? Quais são as suas causas?

Para
responder a essas perguntas é preciso, antes de tudo, ter uma visão
sobrenatural da própria vida espiritual. Quando se está somente sob a
perspectiva carnal, as consolações permitidas por Deus (comuns no início
da caminhada espiritual), tornam-se um sinal de progresso e, da mesma
forma, quando vem a aridez (também comum), ela é vista como sinal de
distanciamento de Deus, até mesmo como fracasso.

Contudo, na maior
parte das vezes, o fastio é permitido por Deus justamente para que a
pessoa obtenha progresso na vida espiritual. É por isso que a visão
sobrenatural é importante, pois ela permite receber esses momentos com
fé e confiança em Deus.

A aridez espiritual pode ter causa física.
Constituído de corpo e mente, o homem terá uma vida espiritual melhor
se a sua mente E o seu corpo estiverem bem. Mens sana in corpore sano.
Não se fala aqui só de doença, mas também do stress e do ativismo, os
quais podem cansar tanto a pessoa que ela se sente incapacitada para a
oração. Se o problema for físico, o remédio também será físico,
ou seja, é preciso retirar as causas, talvez cuidando da doença,
reduzindo o ritmo de vida, descansando um pouco mais, pois é muito
difícil crescer na vida espiritual quando o corpo, cansado, está indo no
sentido contrário.


A segunda causa da aridez espiritual
pode ser psíquica, ou seja, da própria pessoa. Quando não se dá a devida
importância à vida de santidade, sendo condescendente com os pecados
veniais, apegando-se aos pequenos prazeres etc., tudo isso pode
contribuir para que a aridez se instale. O modo de se relacionar com
Deus também é determinante, pois se a relação é superficial, baseada
apenas numa troca de favores (emprego, finanças, saúde, amor, etc.), Ele
se torna apenas um empregado e não o Senhor. Portanto, o apego
ao mundo material, uma visão carnal da própria fé e uma relação
superficial com Deus podem causar também a aridez espiritual.


Ainda
relacionado à segunda hipótese, é possível apontar a tibieza como causa
da aridez espiritual. A frouxidão é uma espécie de preguiça espiritual,
que leva a pessoa à mornidão, à falta de ardor no servir a Deus. O
remédio, portanto, é colocar mais generosidade no serviço a Deus.

Finalmente, a terceira causa da aridez espiritual pode ser espiritual, proveniente de Deus ou do diabo.

Diante
da aridez espiritual, a primeira atitude deve ser a de resignação,
aceitando a falta de consolação e entendendo que se trata de uma maneira
de servir melhor a Deus e procurando auferir dela algum fruto.

A
segunda atitude é a de humilhação diante de Deus. Trata-se de um bom
momento para se colocar humildemente perante o Senhor, reconhecendo a
própria pequenez e o imerecimento de qualquer consolação. É um tempo
propício para reconhecer o senhorio de Deus, deixando de exigir
consolações como se as merecesse, como se tivesse algum direito.

A
terceira postura deve ser a de união a Jesus no Horto das Oliveiras.
Nosso Senhor sofreu grandes angústias naquele momento. É possível
perceber a dificuldade Dele em rezar, chegando mesmo a suar sangue. Se o
próprio Deus sofreu e suportou, o homem também é capaz de sofrer e
suportar.

Santo Inácio de Loyola, em seus exercícios espirituais
ensina que o remédio para a aridez é a generosidade o que, na prática,
significa aumentar o tempo de oração, o tempo dedicado às coisas do
Senhor. Contudo, não existe um remédio único, certeiro, pois cada caso é
um e, além do mais, existe também a liberdade divina, o desígnio de
Deus para cada um de seus filhos que pode implicar também em permitir um
tempo sem consolações, conforme já foi dito.

A vida de
oração, portanto, não é um parque de diversão, mas sim, um esforço feito
por amor que, tanto mais valioso quanto mais sacrificado.

Colocar-se em oração, mesmo não querendo, torna este momento muito mais
precioso aos olhos de Deus do que outras orações feitas em momentos de
consolação.



Fonte: https://padrepauloricardo.org/episodios/o-que-fazer-contra-a-aridez-espiritual?utm_content=buffer5ffce&utm_medium=social&utm_source=facebook.com&utm_campaign=buffer

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