Ludovico Carracci (1555-1619), Anjo liberta as almas do purgatório


 


Parece que a alma é o homem:


1. Com efeito, diz a segunda Carta aos Coríntios: “Embora nosso homem exterior se corrompa, o que é interior renova-se dia a dia” (4, 16). Ora, o que é interior no homem é a alma. Logo, a alma é o homem interior.


2. Além disso, a alma humana é uma
substância, não universal, mas particular. É, pois, uma hipóstase, isto
é, uma pessoa, e uma pessoa humana. Portanto, a alma é o homem, uma vez
que a pessoa humana é o homem.


EM SENTIDO CONTRÁRIO, escreve Agostinho citando Varrão: “O homem não é só alma, nem só corpo, mas afirmamos que ele é simultaneamente alma e corpo”.





 





RESPONDO. Que a alma seja o homem pode-se entender de duas maneiras:


1. Que o homem é a alma, mas que este homem
não o é, pois é composto de alma e de corpo; por exemplo, Sócrates.
Digo isso, porque alguns afirmaram que só a forma é da razão da espécie,
mas que a matéria é parte do indivíduo, não da espécie. Mas isso é
falso, pois a natureza da espécie é significada pela definição. Contudo,
a definição das coisas naturais não significa só a forma, mas a forma e
a matéria. Por isso, a matéria é parte específica nas coisas naturais,
não a matéria assinalada, que é o princípio da individuação, mas a
matéria comum. Assim como é da razão deste homem ter esta alma, estas carnes e estes ossos, assim também é da razão de homem
ter alma, carnes e ossos. Isso porque pertence à substância da espécie
ter o que é comum à substância de todos os indivíduos contidos naquela
espécie.


2. Que esta alma é este homem. É possível sustentar isso, se se afirma que
a operação da alma sensitiva é própria dela independentemente do corpo,
porque, então, todas as operações atribuídas ao homem seriam só da
alma, uma vez que cada coisa é aquilo que opera suas próprias operações.
Por isso, é homem aquilo que opera as operações próprias do homem. Mas
foi demonstrado acima (artigo precedente) que sentir não é operação só
da alma. Sendo o sentir uma operação do homem, embora não própria, é
claro que o homem não é só alma, mas é algo composto de alma e corpo*.
Platão, ao afirmar que sentir é próprio da alma, pôde dizer que o homem é
uma alma que se serve do corpo.


[*Nota: Mesmo sendo ela mesma
subsistente, a alma só tem sua natureza completa, é um homem, uma
pessoa, um “eu”, mediante sua união com o corpo.]





Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:


1. Segundo o Filósofo, no livro IX da Ética,
cada coisa parece ser, sobretudo, o que é nela principal; por exemplo, o
que o governante de uma cidade faz diz-se que a cidade faz. Assim, às
vezes, se chama homem o que é nele o principal. Umas vezes, é a parte
intelectiva, o que corresponde à verdade, que é denominada homem interior;
outras vezes, é a parte sensitiva nela compreendida o corpo, segundo a
opinião de alguns que só se detêm no que é sensível, e é denominada homem exterior.


2. Nem toda substância singular é
hipóstase ou pessoa, mas somente aquela que possui a natureza completa
da espécie. Consequentemente nem mãos, nem pés, podem ser chamados de
hipóstase ou pessoa. E nem a alma, pois ela é uma parte da espécie
humana.





Fonte: https://sumateologica.wordpress.com/2010/12/08/tomas-responde-a-alma-e-o-homem/


 



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