A descoberta da própria vocação não é um bicho de sete cabeças, como pode parecer algumas vezes



 



Falar sobre a vocação é tratar de transmitir a experiência de um
diálogo travado entre duas pessoas: Deus e aquele a quem ele chama. Um
diálogo que acontece durante toda a vida e que, em certos momentos,
exige opções que nos vão conduzindo pelos caminhos sempre surpreendentes
do Senhor. Para mim, é difícil falar de tempos certos para se pensar
nisso ou naquilo, tomar essa ou aquela decisão, justamente porque os
tempos que precisamos viver não são os nossos, mas os de Deus. Se
precisamos fazer algo, penso que é estar preparados para responder “sim”
quando Ele nos chamar.


E Ele vai nos chamar. Na verdade, já nos chamou e já começamos a
responder desde o dia em que fomos batizados. Nesse dia fomos
consagrados para Deus, ou seja, entramos para fazer parte da família do
Senhor. Mais tarde, com os outros sacramentos da iniciação cristã, fomos
fortalecendo essa consagração. E é essa a vocação que temos todos: a de
sermos cristãos. Mas sê-lo de verdade.


Apenas em um âmbito de intensa vida cristã é que tem sentido falar de
vocações específicas, porque ela é, como nos diz o Catecismo, a forma
como cada um serve na Igreja pela salvação dos outros. Quando falamos em
ser padre ou em casar, por exemplo, não estamos falando, em primeiro
lugar, da maneira como eu vou me salvar, mas da maneira como eu vou
cooperar com Deus para que Ele salve a outros. E isso só tem sentido em
uma pessoa que vive uma vida cristã verdadeira.


Tenho uma convicção profunda que me diz que a vocação específica e,
em particular, o descobrimento dela, não pode ser um bicho de sete
cabeças como pode parecer algumas vezes. E o raciocínio é maios ou menos
o seguinte: Deus é um Pai amoroso, que deseja a minha felicidade e
realização muito mais do que eu mesmo a desejo (E olha que eu desejo
muito ser feliz). Ele é também Todo Poderoso, sábio e misericordioso.
Sai ao encontro das nossas fragilidades, nos acompanha em nosso
caminhar, nos conduz por suas sendas. Com tudo isso, não faz sentido que
o Plano que Ele tenha para mim seja algo que esteja escondido debaixo
de sete chaves em um lugar de difícil acesso. Pelo contrário, parece que
deveria ser muito evidente. E porque parece que não é?


Conhecemos aquelas passagens nas quais Jesus conta uma parábola que
termina com “E quem tenha ouvidos para ouvir, que ouça”. O que pode
acontecer, e acho que acontece muito, é que enquanto Deus grita, nós
somos os que não temos os famosos ouvidos para ouvir. Mas Deus fala a
todo momento. E entre as coisas que Ele nos diz e os caminhos pelos
quais nos guia, certamente o seu desejo é que encontremos aquele no qual
seremos mais felizes, de acordo com quem somos. E aqui voltamos ao
início: A vocação específica se descobre, primeiro, vivendo a primeira
vocação à santidade, o chamado a sermos verdadeiramente católicos.
Apenas assim vamos conseguindo esses “ouvidos que ouvem”. Depois disso, a
tarefa central é escutar e responder, ou seja, dialogar com Deus.


Três perguntas que podem ajudar:



– Como me vejo ajudando a que outros se encontrem com Jesus?


– O que estaria disposto a entregar se Deus me pedisse?


– Como meu coração mais se realiza?


E não ter medo de ter medo, porque o ele sempre aparece. O que Jesus
pede nos desconcerta, às vezes nos incomoda, pode não ser o que
estávamos esperando, pode ser mais exigente do que gostaríamos. Mas
tenhamos a certeza de que apenas vivendo a vida que Ele nos convida a
viver, seja ela qual for, é que encontraremos a verdadeira razão da
nossa existência.


Para terminar, lembro a frase do Papa Bento XVI em sua primeira
homilia como Papa: “Não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele
dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par
as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira”.


 Fonte: http://pt.aleteia.org/2016/05/12/qual-a-hora-certa-de-pensar-em-minha-vocacao/


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