Desde a origem estabeleceu Deus um distinto
    e profundo relacionamento, e singular convívio, com o Homem. Manifesta-se
    desde então ora como estreita colaboração mútua
    ora como profunda comunhão de vidas e intimidade bem familiar. Em
    qualquer caso, porém, ocupa o Homem uma posição ímpar
    de colaborador e coordenador da Obra de Deus, pelo que se pode dizer ser
    ele o catalisador da Criação. É que apesar da perfeição
    que coroa cada ato criativo particular ou conjunto de Deus, há sempre
    presente uma demanda nas coisas criadas, a exigir um ordenador comum e
    inteligente - O HOMEM, "imagem e semelhança de
    deus
    " (Gn 1,26). É o caso da mescla em que se nos apresenta
    a natureza: tudo misturado e esparso, gêneros e espécies,
    a compor determinado ambiente. Cabe ao Homem separar, ordenar e semear
    conforme o consumo, separando, ordenando e semeando por gênero e
    espécie, função essa bem destacada na ocasião:


"No tempo em que Iahweh
Deus fez a terra e o céu, não havia ainda nenhum arbusto
dos campos sobre a terra e nenhuma erva dos campos tinha ainda crescido,
porque Iahweh Deus não tinha feito chover sobre a terra e não
havia homem para cultivar o solo"
(Gn
2,4-6)
.

Deus tudo criara com aptidão imanente
para germinar e propagar-se. Além disso, oferecia a chuva, cabendo
ao Homem o cultivo do solo. Estabeleceu-se então entre ambos, Deus
e o Homem, verdadeiro consórcio de tarefas, um "co-múnus",
uma comunhão num primeiro relacionamento: Deus propiciava
a chuva, e o Homem oferecia o seu trabalho. Ao Homem
cabia cultivar o solo, eis um dos motivos imediatos da sua Criação,
e ainda o deslocamento dele para outra situação em nova dimensão
ou novo estado de vinculação relacional com Deus:
"Então Iahweh
Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em sua narinas um hálito
de vida e o homem se tornou um ser vivente." / "Iahweh Deus plantou um
Jardim em Éden, no oriente, e aí colocou o homem que modelara...
Iahweh Deus tomou o homem e o colocou no Jardim do Éden para o cultivar
e guardar"
(Gn 2,7-8.15).

É uma maneira diferente de dizer
a mesma coisa já dita com outras palavras: Ao "insuflar em suas
narinas o hálito de vida" Deus cria o Homem "a sua imagem e semelhança"
e ao "colocá-lo no Jardim que Ele mesmo plantara" modifica a sua
situação e o distingue dos outros seres já criados.
Criando o Homem para cultivar o solo, não havia a necessidade de
lhe preparar um local especial para aí o colocar, a não ser
que se pretenda evidenciar a existência de um relacionamento especial
preparado pelo próprio Criador. E, tendo sido preparado e ordenado
pelo próprio Deus, só pode ser uma maior aproximação
de ambos, Deus e o Homem, o que traz para o último uma profunda
modificação em seu estado, elevando-o a um relacionamento
sobrenatural. Pode-se vislumbrar sem esforço a existência
de dois campos de relacionamento entre Deus e o Homem, quais sejam:



      • o primeiro é aquele em que Deus fornece
        a chuva e o homem fornece seu trabalho no cultivo da terra (Gn
        2,5-6)
        ; e,


      • o segundo, onde Ele mesmo planta um "jardim"
        e nele "coloca" o Homem para dele "cuidar" (Gn 2,7-15).





    Há fundamental diferença entre
    ambos, eis que no último aprofunda-se a vinculação
    entre Deus e o Homem, colocado num jardim especialmente preparado, com
    a finalidade de "cultivá-lo e guardá-lo" (Gn 2,15). É
    como se fossem dois mundos que se destinavam ao cultivo do homem. Neste
    último Deus "passeava à brisa do dia" (Gn 3,8), caracterizando-se
    com essa sua "presença física" a elevação do
    estado do Homem a uma verdadeira comunhão de vidas entre ambos,
    fruto de ato exclusivo de Deus. O Homem de então participa da Criação
    pelo trabalho e da vida divina pela comunhão sobrenatural com Deus.
    Estabelece-se assim, desde o início, um convívio mais dependente
    e íntimo, uma profunda familiaridade. Essa comunhão de vidas
    foi e é ainda o ápice de toda a Criação, percebendo-se
    já o grande privilégio conferido ao Homem, tratado e considerado
    em ambas as dimensões como o único centro gravitacional da
    atenção generosa, amorosa e objetiva de Deus. Por causa disso
    é que Adão "dá o nome" a todas as criaturas (Gn 2,20),
    eis que nomear biblicamente significa ser dono:


"... chamei-te pelo
teu nome: meu tu és"
(Is
43,1)
.

Desde essa integração e relacionamento
comum apresentaram-se os vários elementos indissociáveis
e que compõem a natureza humana e se destinam à consecução
de um desenrolar antecipadamente elaborado, planejado e estabelecido, apesar
de profundamente livre. Uma espécie de plano geral, tal como uma
obra "inteligente e pensada", elaborado pelo próprio Deus, no qual
o Homem se torna participante ativo e consciente. Goza então da
glória e da felicidade de uma vida em estreita comunhão,
intimidade e familiaridade pessoais com o Criador. Estabelece Deus com
o Homem, pessoa a pessoa, um "consórcio de tarefas" (Gn 2,5-6)
e uma "comunhão de vidas" (Gn 2,7-15).




A partir de então Deus sempre quer
manter viva e dinâmica essa intimidade, familiaridade e comunhão
de amor com o Homem, sua Criação predileta, a quem destinou
toda a Criação:
"Deus abençoou-os
e lhes disse: ‘Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a;
dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais
que rastejam sobre a terra"
(Gn 1,28).

Recebe o Homem diretamente de Deus toda
a Criação. O tom imperativo da entrega denota toda uma dinâmica
em que se fundará a atividade humana e a íntima relação
entre Deus e toda a humanidade. È a linha de toda a História.
Este desígnio de Deus é o mesmo até hoje, e será
o mesmo até o fim dos tempos, na culminação de toda
a Obra. Nada, nem mesmo qualquer ato humano, pode alterar ou perturbar
a realização dos Planos de Deus, em si; pode perturbar apenas
o recebimento dos benefícios, retardando-os apenas quanto ao próprio
Homem e à Criação, na História: A Criação
é um ato irreversível de Deus.




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