Distúrbio
de ordem emocional e psicológica, a Síndrome de Burnout tem o trabalho
como elemento desencadeador. O principal equívoco é confundi-la com a
depressão, que é uma doença “mais orgânica e que às vezes já faz parte
da pessoa”, nas palavras da psicóloga clínica Marlene Asevêdo Passos de
Alencar. No caso da Síndrome de Burnout (algo como “queimar por
completo”, em tradução livre do inglês), o quadro também é de
esgotamento físico e mental, mas a causa “está intimamente ligada à vida
profissional”, segundo definiu o psicanalista nova-iorquino Herbert J.
Freudenberger (1926-1999), um dos primeiros a diagnosticar o distúrbio,
no começo dos anos 70. “A profissão do indivíduo e seu local de trabalho
contribuem muito para que o distúrbio se desenvolva”, complementa
Marlene.





No
princípio, achou-se que apenas profissionais das áreas de saúde e
educação – médicos, enfermeiros, professores – estivessem sujeitos à
doença. No entanto, embora essas áreas ainda concentrem o maior número
de casos, hoje se sabe que ela pode aparecer em qualquer ramo de atuação
em que o trabalhador é submetido a altos níveis de estresse.





De
acordo com a também psicóloga Ana Maria T. Benevides Pereira,
especialista em medicina do trabalho e pesquisadora do Grupo de Estudos
sobre Estresse e Burnout (Gepeb), ligado à Universidade Estadual de
Maringá (UEM), é possível falar em um perfil de profissional que mais
particularmente está sujeito a apresentar o distúrbio. A dedicação
exagerada à atividade profissional e o desejo excessivo de ser o melhor e
de sempre demonstrar alto grau de desempenho estão entre as
características. Mas é bom, no entanto, não confundir com algum preço
pago pela ambição desenfreada. Muitas vezes, só o esforço compreensível
para ser um bom profissional pode colocar o indivíduo no alvo.
“Normalmente, são pessoas mais idealistas, que têm muita empatia pelos
outros, adoram o que fazem e se entregam ao trabalho com tal satisfação
que não percebem a hora de parar”, prossegue Ana Maria, também autora do
livro Burnout: Quando o Trabalho Ameaça o Bem-Estar do Trabalhador (Casa do Psicólogo, 2010).








Assim,
aquele excelente funcionário é justamente o mais sujeito a apresentar o
distúrbio. Engana-se quem pensa que o burnout está ligado à
insatisfação no emprego. Os especialistas informam que profissionais
realizados, felizes com o que fazem e com suas organizações também devem
ficar atentos. “Aí está um problema bastante sério. Como a pessoa gosta
muito do que faz, ela vai tentando contornar os problemas para se
manter no ambiente de trabalho. E quando ela se dá conta não está mais
aguentando”, avalia Ana Maria.





Os
sintomas da Síndrome de Burnout também podem confundir. Eles variam de
pessoa para pessoa. Segundo a especialista, tudo pode começar com
incômodos físicos e mudanças de comportamento que tendem a se confundir
com cansaço. No entanto, no caso do burnout, a tendência é que esses
indícios se acumulem e tornem-se cada vez mais agudos, a ponto de a
solução ser bem mais complicada do que alguns dias de folga.





Fisicamente,
a especialista explica que, como cada um de nós tem o que ela chama de
órgão-alvo – “aquele que primeiro se manifesta quando a gente tem alguma
dificuldade” –, o burnout pode aparecer na forma de dores de cabeça ou
aumento da pressão arterial ou dores no estômago. Já no que diz respeito
ao comportamento, a impaciência com os colegas, a irritabilidade e até
mesmo um cinismo excessivo podem ser indícios. “Principalmente em
pessoas que não são assim”, informa Ana Maria. “Ou seja, a pessoa vai se
transformando no ambiente de trabalho.” Mas é sempre bom esclarecer que
esses são apenas alguns exemplos dos diferentes sintomas. Diante de
qualquer desconfiança, um especialista deve ser consultado.








Medicamentos e mudança de hábito 


  


Uma
vez que se trata, por definição, de uma doença do trabalho, seria
natural que o mundo corporativo se preparasse para ela. Mas, ao menos
até agora, não é o que se vê. Na análise da especialista em Recursos
Humanos Priscilla Telles, gerente executiva da empresa de consultoria
Ricardo Xavier, a maioria das empresas não está preparada para perceber o
problema “num momento em que a situação ainda não está sendo
prejudicial para a carreira do profissional e para os resultados da
empresa”, conforme coloca. E o motivo decorre da falta de informação
acerca das doenças emocionais e psicológicas. “Quando a gente fala de
empresas, do mundo dos negócios, as corporações – na verdade, toda a
sociedade – não estão preparadas para assumir que problemas psicológicos
e psiquiátricos existem, mas não invalidam as pessoas”, afirma
Priscilla. Tal postura ainda leva a outro agravante: muitos
profissionais acabam escamoteando os sintomas por tempo demais com
receio de serem julgados ou até mesmo demitidos.





Para
a consultora, no entanto, é papel das organizações darem suporte ao
funcionário diagnosticado. Os principais agentes envolvidos, explica,
seriam o chefe direto, o departamento de recursos humanos e a diretoria,
nesta ordem. “Os superiores imediatos precisam estar preparados para
gerir as pessoas com suas características individuais”, justifica. “Os
RHs podem agir com toda a empresa – por meio de ações de estímulo a uma
alimentação saudável, realização de atividade física etc. E a diretoria,
que deve sempre se comunicar com os recursos humanos.”





O
tratamento da Síndrome de Burnout inclui desde medicamentos até
mudanças de hábitos. Posto isso, muitos são os profissionais que podem
ser procurados depois do psiquiatra, a exemplo do psicólogo e até mesmo
do nutricionista e do personal trainer – afinal, boa alimentação e
atividades físicas regulares fazem bem tanto para o corpo quanto para a
mente. Para Ana Maria Benevides, tudo pode começar com uma
autoavaliação. “Tentar perceber como você se sente com relação ao
trabalho, em que momentos se sente pressionado, tenso, o que te incomoda
na hora de sair de casa e o que ainda te preocupa quando você volta.”





A
especialista dá outras dicas que ajudam a “criar imunidade” contra a
doença: dormir o tempo necessário, não pular as férias, preservar os
finais de semana – “mas para atividades prazerosas, não para ficar no
sofá vendo TV até chegar segunda-feira”, ter um hobby e, por fim, manter
sempre os amigos e a família por perto. “São essas coisas que te dão
suporte na hora que em que surgem dificuldades no trabalho”, conclui.





por Julio Caldeira





Fonte: Canal RH 



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