Por João Pedro Oliveira | FratresInUnum.com
– À parte o escândalo que é ter um vídeo, publicado pelas próprias
fontes oficiais vaticanas e protagonizado por ninguém menos que o Papa,
insinuando uma certa igualdade entre Cristo e algumas religiões pagãs, é
preciso fazer uma consideração especial a respeito de uma afirmação do
Santo Padre, cujo teor não parece ter sido devidamente apreciado pelos
sítios católicos que visito.





papa





Trata-se da afirmação de que “somos todos filhos de Deus”.


Com esta
postagem, não pretendo “adivinhar” as intenções do Sumo Pontífice,
embora seja muito sensato que os fiéis católicos, como filhos da Igreja,
procurem dar um sentido católico àquilo que ele fala, pois
um Papa não tem sentido fora da Igreja e da comunhão com os seus predecessores.


Sem mais delongas, consideremos, com Santo Tomás de Aquino, que a filiação divina pode ser tomada em vários sentidos (cf. Suma Teológica, I, q. 33, a. 3).


Propriamente
falando, filho de Deus é um só: Jesus Cristo. É o que confessamos no
Credo, quando dizemos crer em “Jesus Cristo, seu único Filho, nosso
Senhor”; é o que dizem em várias passagens os Evangelhos; é o que o
Símbolo Niceno-Constantinopolitano exprime por meio da expressão
“consubstancial ao Pai”. Jesus Cristo tem a mesma natureza divina do
Pai, e isto o torna filho de Deus de uma forma que nenhuma criatura o é.
Por isso, no Evangelho de S. João, quando anuncia aos Seus discípulos
que deve partir, Cristo diz: “Subo para o meu Pai e vosso Pai”, como se
dissesse: A minha filiação não é a mesma que a vossa.


A grande
novidade da religião cristã – e que não está nem no budismo, nem no
islamismo, nem no judaísmo – é que, através da fé, Deus vem dar ao homem
o poder de se tornar filho de Deus, participando na própria natureza
d’Ele.


Esse modo especial de filiação acontece pela graça e começa com o Batismo, mas só se consuma e se torna definitiva na glória
do Céu e, por isso, é possível dizer que os Santos, depois de Jesus,
são os que com maior razão podem ser chamados de filhos de Deus,
seguidos por nós, que pertencemos à Igreja e procuramos perseverar na
graça.


A lista
não para por aí, pois todos os seres humanos, enquanto formados à
imagem, uma vez que a semelhança se perdeu com o pecado original, também
podem ser chamados de Seus filhos. Mais abaixo, vêm todas as demais
criaturas, enquanto plasmadas pelas mãos do Criador, e que também podem
ser consideradas Suas filhas.


O abismo
que existe entre esta filiação e aquela, no entanto, é o mesmo que
separa a Terra do Céu, a Criação da Redenção, o natural do sobrenatural,
a razão humana da Revelação Divina. É verdade que, enquanto criaturas
humanas, “somos todos filhos de Deus”, mas essa está longe de ser “a
única verdade” que conhecemos: pelo Filho de Deus Encarnado, somos
chamados a uma elevação, a um
upgrade fora do comum, a uma felicidade para muito além de nossa natureza.


Então somos todos filhos de Deus? Somos. Santo Tomás poderia concordar tranquilamente com essa afirmação.


O que ele,
bem como a multidão de santos e doutores da Igreja, certamente não
aceitariam, é esse silêncio e esse reducionismo em relação à verdadeira
mensagem do Evangelho, apresentada ambígua e parcialmente, que temos
visto acontecer de forma muito clara dentro da Igreja, ao longo dos
últimos anos.


Considerando
que foi para elevar os homens à vida de Deus, à filiação divina pela
graça, que o Verbo veio ao mundo e que a Igreja foi fundada, falar
simplesmente que “somos todos filhos de Deus” – ou mesmo que “só há uma
certeza” que compartilhamos com os membros de outras religiões –, sem
maiores distinções ou nuances, é trair aos Apóstolos, é jogar no lixo as
missões, é menosprezar os esforços de um São Francisco Xavier ou de um
São José de Anchieta na catequização e santificação dos pagãos.


Se é apenas para dizer aos homens que eles já são
criaturas do Deus que servimos, calando sobre a necessidade da Fé e do
Batismo para a vida eterna, transformamo-nos em uma religião natural,
como qualquer outra. Se é só para pedir o fim do aquecimento global ou o
cuidado do mundo criado que gastamos a nossa saliva e a nossa ira,
transformamo-nos em uma ONG há muito tempo, e ainda não percebemos.


A Igreja foi fundada para falar de Deus e levar os homens à comunhão com Ele.
Se for preciso, que voltemos no tempo ou revisemos as nossas
“estratégias pastorais” para devolvermos as coisas ao seu verdadeiro
lugar, que seja. Mas que a Igreja seja o que é, o que Deus quis que ela
fosse, não o que o mundo quer que ela seja. Isso não pode ser pedir
demais.





Fonte: https://fratresinunum.com/2016/01/25/afinal-somos-todos-filhos-de-deus/

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