A
história de Israel é a história de uma educação de um povo que vivia no
meio dos pagãos, muitos deuses e repletos de costumes errados que
penetraram na sua cultura. Esse “limite da cultura”, como diz Bento XVI,
não permitia ainda a Deus fazer o povo entende-lo de outra maneira.
Então Deus tolera o divórcio, a poligamia, e outros erros que vemos o
Antigo Testamento. Mas, devagar, por fases, Deus faz seu povo sair da
violência em Seu Nome, até o dia em que Jesus diz no Sermão da Montanha:
“Bem-aventurados os mansos”.


Deus é paciente porque
é eterno; não tem pressa; Ele sabe que existe um caminho para lidar com
a nossa dureza de coração, tibieza de alma e preguiça espiritual; então
vai devagar conosco para que não o abandonemos de vez. Na cultura e na
moral da época, esse agir “violento” de Deus, era, para o povo, normal e
legítimo. Ninguém entende a história se não entende a mentalidade da
época em que os fatos aconteceram. Esta é a nossa dificuldade para
entender o passado.


No começo da Bíblia, os
primeiros capítulos do livro do Gênesis falam da criação e da origem da
humanidade: a violência não tem sua origem em Deus. A primeira
consequência do pecado é a violência. Em meio à rivalidade, Caim mata
Abel. Deus quer acabar com o ciclo infernal da violência e protege Caim;
não permite que outros o matem. Mas a violência continua. E aumenta
tanto que Deus se arrepende de ter criado o homem. “A terra está repleta
de violência por causa dos homens”, diz a Noé. E Deus faz um novo
começo, a partir do único justo que encontra: Noé e sua família!


Deus
permite que o dilúvio elimine pecadores e pecados. Não é vingança
divina; é correção; a Justiça perfeita de Deus, mas não pode deixar
indefinidamente que se propaguem o mal, a injustiça, a violência, o
pecado. Então, Ele corrige o homem segundo os seus costumes, sua época,
sua mentalidade.


Muitas passagens da Bíblia utilizam
uma linguagem de imagens. E não podemos, com mentes superficiais,
encarar isso com superficialidade. Por exemplo, Deus impediu que Abraão
lhe oferecesse seu filho em sacrifício e esta proibição permanecerá.
Abraão estava acostumado com sacrifícios humanos aos deuses da
Babilônia, de Ur na Caldeia, de onde Deus o tirou. Por isso Ele aceitou
sacrificar Isaac, mas Deus só estava testando o seu amor.


Outro
exemplo: Em Jerusalém, o vale de Geena está amaldiçoado porque reis
ímpios acreditavam atrair os favores divinos sacrificando seus filhos e
filhas. Deus condena isso, no profeta Jeremias: “Uma coisa dessas eu
nunca mandei fazer!” (Jr 7, 31).


Ainda: Deus faz
chover fogo sobre Sodoma, para eliminar seu pecado. Ali não havia dez
justos pedido por Abraão. Dois Apóstolos (o meigo João e Tiago) queriam,
um dia, fazer descer fogo do céu sobre os samaritanos, por terem
rejeitados Jesus. O Mestre os repreende: “quero misericórdia!”. “Vocês
não sabem que espírito os anima”. Deus não é violento: é justo e protege
seu povo.


Naquele mundo imerso na violência, o povo
de Israel, também acostumado com ela, se encontra em estado de guerra
ao chegar a Palestina, saindo livre do Egito. Está em jogo a sua
independência nacional e também religiosa, por isso, entra em combate
com os povos que o cercam. Era algo normal naquele tempo, naquela
cultura: a guerra era uma atividade cotidiana. As guerras de Israel têm,
portanto, segundo o costume válido, um objetivo sagrado. Deus é o
“Senhor dos exércitos” celestiais, e também dos exércitos de Israel que
defendem a sua independência religiosa. Dai vai nascer o Salvador de
todos os homens.


Outro fato importante, é que Israel
está misturado com povos pagãos, cheios de idolatria, e maus costumes,
correndo o risco de adotar também os seus deuses, como aconteceu muitas
vezes. Por isso, o desejo de “pureza religiosa” levou ao aniquilamento
de algumas populações. Mas este tipo de conduta, pouco frequente, teve
muitas vezes causas muito mais mundanas.


Israel foi
mais vítima da violência que autor dela. A mudança total de perspectivas
é anunciada pelas profecias de Isaías do Servo de Deus: “Meu servo
justificará muitos e suportará as culpas deles” (Is 53,11).


Portanto,
é preciso entender que a violência na Bíblia é a história da educação
de um povo, que sai do mundo pagão, violento, para se tornar o povo de
Deus, de onde virá a Salvação. Onde não está presente a violência na
nossa sociedade, no nosso mundo, e também nos nossos corações? O século
XX foi o século mais violento da história. E o XXI já parece
ultrapassá-lo.


Se existe ódio, ele se dirige a todas
as formas do mal: a rejeição de Deus, a falsidade, a injustiça, o
desprezo dos outros, da sua dignidade, dos seus bens. É preciso odiar o
pecado e amar o pecador. É o que o autor do salmo citado não podia
entender: “Com grande ódio eu os odeio”; é o que Jesus realizou
perfeitamente e que seus adversários não entenderam.


Como
devemos interpretar, hoje, os inimigos do povo de Deus no Antigo
Testamento? Sobretudo as forças do mal que combatem contra Deus, Seu
Reino, e contra a Igreja. Não mais serão vencidos pelas forças dos
cavalos, das lanças e das espadas, mas pelo poder de Deus, como Jesus
ensinou no Sermão da Montanha.





Fonte: Grupo Duvidas Católicas _ Facebook.

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