Do grego gnosis, "conhecimento". Normalmente o termo "gnosticismo" refere-se à corrente sapiencial e religiosa que nasceu no início da nossa era no interior do cristianismo. Embora o termo "gnosticismo" se refira normalmente ao cristianismo, há também um gnosticismo hebreu, um gnosticismo islâmico e até um gnosticismo pagão, grego, babilónico e iraniano. É uma doutrina que visa a salvação da alma não através da fé, mas do conhecimento ou, mais propriamente, através do saber espiritual.
As bases do saber gnóstico são as relações entre Deus, o homem e o universo; relações estas que ele define como simpáticas (relações mágicas segundo as quais o semelhante atrai o semelhante) e analógicas: o homem é entendido como um microcosmos, quer dizer, um universo em ponto pequeno. Tudo o que acontece no universo se repercute no homem e vice-versa.
Para o gnóstico o universo é o local em que o homem se deve redimir espiritualmente, purificando-se através de uma ascese a que só o conhecimento gradual do divino pode dar acesso. Neste contexto, o mundo é entendido como uma prisão para o homem, do mesmo modo que o seu corpo para a sua alma. 
Então, para ele, o criador deste mundo não é Deus, mas antes um demiurgo, um ser revoltado contra o Deus verdadeiro e supremo. Para o gnóstico seria impossível conceber Deus como o criador deste mundo, pois se Ele é liberdade e bondade supremas, não poderia ter aprisionado o homem, Seu filho, dEle emanado, num mundo de sofrimento.
O gnosticismo defende, portanto, uma conceção antropológica dualista, pois o homem, a sua alma, é uma parcela de luz incarnada numa parcela de trevas (o corpo). Significa isto que o homem é na sua essência um princípio divino, uma centelha de luz pura que caiu neste mundo tenebroso, onde vive encarcerado e esquecido da sua ascendência divina. A tomada de consciência desta situação é o primeiro passo para o gnóstico iniciar a libertação da sua alma e o seu encaminhamento para o verdadeiro lar, para a verdadeira pátria de onde procedeu.
Na Europa encontramos exemplos de gnose como o priscilianismo (século IV a VI) e o catarismo (século XIII).

As possíveis origens do gnosticismo

Embora a origem do gnosticismo não seja precisamente conhecida, pode-se mencionar uma pré-gnose grega e uma pré-gnose judaica. Do lado Grego, Platão pode ser considerado seu ancestral, haja vista a sua concepção de reminiscência.

Do lado judeu, a Palestina aparece como o possível berço desse movimento alavancado por seitas judaicas como os essênios e os samaritanos. E na confluência das tendências gnósticas gregas e judaicas, encontra-se a figura de Fílon de Alexandria (SESBOÜÉ; WOLINSKI, 2005, p. 39).

Em razão desse sincretismo, o Dicionário Teológico Enciclopédico ressalta que o gnosticismo não se consolidou como um movimento bem harmonizado, mas como um conjunto de escolas ou seitas distintas por culto, organização e doutrina. Além disso, no interior dessas mesmas escolas ocorriam mudanças doutrinais grandemente consideráveis, ou seja, elas não eram homogêneas.

O perigo e as implicações do pensamento gnóstico no campo da ética e da moral

Esse dualismo que caracteriza o gnosticismo tinha reflexo, inclusive, no campo moral. Daí, resultavam duas concepções: uma caracterizada por um libertinismo descarado. Essa concepção era motivada pelo fato de o gnóstico ser, na visão deles, ontologicamente detentor de uma salvação que ninguém e nada lhe podem tirar. A segunda, em total antítese com este libertinismo, afirma-se no interior do gnosticismo uma ascese tão rigorosa que chega a desprezar qualquer expressão material do na pessoa.

Dessa forma, não resta dúvida que essa doutrina constitui para a comunidade cristã dos primeiros séculos um perigo, dos mais graves, tanto no âmbito doutrinal quanto no ético. Justifica-se, portanto, a forte tomada de posição de importantes personagens, não apenas Santo Irineu, mas também de Justino, Hipólito, Clemente de Alexandria, Orígenes dentre outros.


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