história da RCC - foto 04



 



Histórico





1 - Introdução






A Igreja, ao longo de sua história, tem presenciado o surgimento de
muitos "despertares"(2) e movimentos de “renovação”. Como observa o
conceituado teólogo Heribert Mühlen, em muitos deles “irrompe assim,
novamente, a vitalidade pentecostal da Igreja, e isso de um modo nunca
previsto”(3).


O "século da Igreja", como foi muitas vezes definido o século XX, já
se iniciará sob o signo de uma necessidade: o desejo da presença
criadora e libertadora do Espírito.(4)


Em 9 de maio de 1897, o Papa Leão XIII publicou a Encíclica Divinum
Illud Munus, sobre o Espírito Santo(5), "lamentando que o Espírito Santo
fosse pouco conhecido e apreciado, concita o povo a uma devoção ao
Espírito". A leitura, os sermões e livros sobre este documento
influenciarão muitas pessoas, estimulando também um número importante de
estudos sobre o papel do Espírito Santo na Igreja.(6)


Passadas algumas décadas e convocado solenemente no dia 25 de
dezembro de 1961, através da Constituição Apostólica Humanae Salutis, a
vida da Igreja contemporânea ficará profundamente marcada pelo Concílio
Vaticano II (1962-1965).


Superando a fase apologética defensiva contra o mundo moderno, teve o
Concílio o mérito de recolher e direcionar vozes proféticas do século
XIX, que buscaram redescobrir a integridade e o ministério da Igreja,
bem como movimentos na primeira metade do século XX, entre eles:
Movimento Litúrgico, Movimento Bíblico, Movimento Ecumênico, etc., e que
traziam um desejo comum: "renovar a vida da Igreja e dos batizados a
partir de um retorno às origens cristãs"(7) .


Para seu promotor, o Papa João XXIII(8) , o Concílio deveria ser uma
"abertura de janelas" para que um "ar novo e fresco" renovasse a Igreja.


Depois de quatro etapas conciliares, o Papa Paulo VI encerrou o
Concílio Ecumênico Vaticano II em uma cerimônia ao ar livre, na Praça de
São Pedro, no dia 8 de dezembro de 1965.


Tendo também sido qualificado como o Concílio do Espírito Santo, "O
Vaticano II foi um verdadeiro Pentecostes como o mesmo João XXIII havia
desejado e ardentemente pedido”(9) e, embora a dimensão carismática
jamais deixasse de existir na realidade e na consciência eclesial,
sobretudo na Lumen Gentium, em seu primeiro capítulo, o Vaticano II nos
torna manifesto esta realidade não como algo secundário, mas como
fundamental. Segundo este documento a Igreja é intrinsecamente
carismática.


O Concílio Vaticano II não vê nenhum motivo para que se estabeleça
uma oposição entre "carisma" e "ministério" ou "carisma" e
"instituição"; tal como as instituições e os ministérios, os carismas
são realidades igualmente essenciais para a Igreja. O Concílio consegue,
assim, superar as antigas impostações dicotômicas que predominaram no
campo teológico por vários anos e recupera o equilíbrio salutar da
eclesiologia: o Espírito guia a Igreja e a "unifica na comunhão e no
ministério; dota-a e dirige-a mediante os diversos dons hierárquicos e
carismáticos" (LG 4)(10).




Na perspectiva do Cardeal Suenens, João XXIII estava consciente de
que a Igreja necessitava de um novo pentecostes e acrescenta: “Agora,
olhando para trás, podemos dizer que o concílio, indicando a sua fé no
carisma, fez um gesto profético e preparou os cristãos para acolher a
Renovação Carismática que está se espalhando por todos os cinco
continentes”(11) .


Na compreensão que tem de si, a Renovação Carismática se percebe como um acontecimento estreitamente vinculado ao Concílio:


A Renovação Carismática apareceu na Igreja Católica no momento em que
se começava a procurar caminhos para pôr em prática a renovação da
Igreja, desejada, ordenada e inaugurada pelo Concílio Vaticano II.


Não se havia passado um ano sequer ao término do Concílio, quando em
1966 começou a despontar o fenômeno religioso chamado agora Renovação
Carismática(12) .


Não sendo, pois, um acontecimento isolado, podemos localizar a
Renovação Carismática como um dos desdobramentos da evolução da
espiritualidade pós-conciliar.





2 - O nascimento da Renovação Carismática Católica.





A Renovação Carismática Católica, ou o Pentecostalismo Católico, como
foi inicialmente conhecida, teve origem com um retiro espiritual
realizado nos dias 17-19 de fevereiro de 1967, na Universidade de
Duquesne (Pittsburgh, Pensylvania, EUA).(13)


Em uma carta enviada dois meses após (29 de abril de 1967), a um
professor, Monsenhor Iacovantuno, Patti Gallagher, uma das estudantes
que participou do retiro, assim relatou o que aconteceu naqueles dias:


Tivemos um Fim de Semana de Estudos nos dias 17-19 de fevereiro.
Preparamo-nos para este encontro, lemos os Atos dos Apóstolos e um
livrinho intitulado "A Cruz e o Punhal" de autoria de David Wilkerson.
Eu fiquei particularmente impressionada pelo conhecimento do poder do
Espírito Santo e, pelo vigor e a coragem com que os apóstolos foram
capazes de espalhar a Boa Nova, após o Pentecostes. Eu supunha,
naturalmente, que o Fim de Semana me seria proveitoso, mas devo admitir
que nunca poderia supor que viria a transformar a minha vida!


Durante os nossos grupos de discussão, um dos líderes colocou em tela
o fato de que nós devemos confirmar constantemente os nossos votos de
Batismo e de Crisma, assim como devemos ter a alma mais aberta para o
Espírito de Deus. Pareceu-me curioso, mas um pouco difícil de acreditar
quando me foi dito que os dons carismáticos concedidos aos apóstolos são
ainda dados às pessoas nos dias atuais – que ainda existem sinais do
poder divino e milagres – e que Deus prometeu emanar o seu Espírito para
que se fizesse presença a todos os seus filhos. Decidimos, então,
efetuar a renovação dos votos de Batismo e de Crisma como parte do
serviço da missa de encerramento, no domingo à noite. Mas, no entanto, o
Senhor tinha em mente outras coisas para nós!...


No sábado à noite, tínhamos programado uma festinha de aniversário
para alguns dos colegas, mas as coisas foram simplesmente acontecendo
sem alternativa. Fomos sendo conduzidos para a capela, um de cada vez, e
recebendo a graça que é denominada de Batismo no Espírito Santo, no
Novo Testamento. Isto aconteceu de maneiras diversas para cada uma das
pessoas. Eu fui atingida por uma forte certeza de que Deus é real e que
nos ama. Orações que eu nunca tinha tido coragem de proferir em voz
alta, saltavam dos meus lábios. (...) Este não era, pois um simples bom
fim de semana, mas, na realidade, uma experiência transformadora de vida
que ainda está prosseguindo e se desenvolvendo em crescimento e
expansão.


Os dons do Espírito já são hoje manifestados – e isto eu posso
testemunhar, porque tenho ouvido pessoas orando em línguas, outras
praticam curas, discernimento de espíritos, falam com sabedoria e fé
extraordinárias, profetizam e interpretam.


Eu, agora, tenho certeza de que não há nada que tenhamos de suportar
sozinhos, nenhuma oração que não seja atendida, nenhuma necessidade que
Deus não possa cobrir em sua riqueza! E, no depender dele e louvá-lo com
fidelidade, eu sinto uma tremenda sensação de liberdade.


Podemos tentar viver como cristãos, morrendo para nós mesmos e para o
pecado, mas esta será uma luta desanimadora se não contarmos com o
poder do Espírito. Ainda existem tentações e problemas, mas agora tenho a
certeza e a confiança em Deus, agora ele me dá segurança. Realmente,
transforma-me a viver nele. É verdade que na Crisma, nós recebemos o
Espírito Santo e que nós somos seus templos, mas nós não nos abrimos o
suficiente para receber em nossas vidas os seus dons e o seu poder. É
certo que o Espírito Santo é o nosso professor: eu dele aprendi tanto e
em tão pouco tempo!


As Escrituras vivem! Amém! Eu estou segura de que jamais poderia ter
acumulado por minha própria conta tanto conhecimento, apesar de todo o
esforço desenvolvido, e com as melhores intenções que tivesse.


(…) Eu me vi, de repente, conversando com as pessoas sobre Cristo, e,
vendo desde logo o resultado desse trabalho! Eu jamais teria ousado
fazer essas coisas no passado, mas agora, é ao contrário: é impossível
deixar de fazê-lo. É como disseram os apóstolos depois de Pentecostes:
“Como podemos deixar de falar sobre as coisas que vimos e ouvimos!"
(…)(14) .


Estas notícias se divulgaram rapidamente, causando um grande impacto
no meio religioso universitário. O “Fim de Semana de Duquesne”, como
ficou mundialmente conhecido este retiro, tem sido geralmente aceito
como o ponto de partida que deu origem à Renovação Carismática Católica,
cuja abrangência estender-se-á, num curto período de tempo, por um
grande número de países.


A experiência inicial vivida nestas universidades, caracterizada por
um reavivamento espiritual por meio da oração, da vida nova no Espírito,
com a manifestação dos seus dons, tomará corpo, transpondo rapidamente o
ambiente onde foi originada.


Através das reuniões, seminários e encontros, em breve, aparecerão
grupos de oração noutras universidades, paróquias, mosteiros, conventos,
etc. Os testemunhos multiplicam-se, vindos dos mais variados grupos de
pessoas: operários, ex-presidiários, professores, religiosos das mais
diversas ordens.


Kevin e Dorothy Ranaghan ainda registram um aspecto pouco divulgado desta história inicial da Renovação Carismática:


Nossa suspeita de que essa experiência de renovação, que agora estava
espalhada, não era nova para os católicos americanos, foi confirmada,
quando ouvimos notícias ou recebemos cartas de pessoas ou grupos de
católicos ao redor do país. Da Flórida, Califórnia, Texas, Wisconsin,
Massachusetts, tivemos notícias do trabalho calmo do Espírito Santo no
decorrer dos anos(15) .


Portanto, embora os primeiros momentos da Renovação tenham se dado em
torno do retiro de Duquesne e apesar de estarem os americanos
igualmente presentes no seu nascimento em diversos outros países, seria
falso atribuir a expansão da Renovação Carismática unicamente à sua
influência. Como afirma Monique Hébrard, a Renovação Carismática
“explodiu quase ao mesmo tempo em todos os cantos da terra e em todas as
igrejas cristãs, sem que se saiba muito bem como é que o fogo se
ateou”(16) .


Para o Cardeal Suenens isto também despertou uma curiosidade, ou
seja, “sem nenhum contato entre si, parece que o Espírito Santo suscitou
em vários lugares do mundo experiências que, se não são iguais,
certamente são semelhantes”(17).





3 - A expansão da Renovação Carismática Católica 





3.1 Crescimento






O fato de muitos canadenses estudarem em Notre Dame e outras
universidades da Região dos Lagos, fez com que a Renovação Carismática
fosse levada ao Canadá também em 1967, conhecendo aí um rápido
crescimento.


Já em 1968 foi realizado nos EUA o primeiro congresso nacional, com
100 participantes; em 1969, 300; em 1970, 1.300; em junho de 1971, 5.000
e em 1972, 12.000.


Em 1973, aconteceu o primeiro congresso internacional em South-Bend,
Indiana, contando com 25.000 participantes e outro em Roma, com 120
líderes de 34 países; em 1974, o segundo Congresso Internacional, em
South Bend, reuniu 30.000 participantes vindos de 35 países, estando
presentes 700 padres e 15 bispos. Em Roma houve, em 1974, um segundo
Congresso, com 220 líderes, vindos de 50 diferentes países. Foi uma
preparação para o terceiro Congresso Internacional, realizado de 16 a 19
de maio de 1975, que reuniu 10.000 participantes provenientes de 54
países.(18)


Entre os anos de 1970 – 80 a Renovação já estava presente em outros
países de língua inglesa (Inglaterra, 1970-71; Austrália, 1970; Nova
Zelândia, 1971) bem como da Europa Ocidental (França 1971-72; Bélgica,
1972; Alemanha, 1972; Itália, 1973; Espanha 1973-74; Portugal, 1974). Na
Europa Oriental, a Renovação chegou apenas na Polônia (1976-77), já na
América Latina, na maioria dos países, ela chegou entre 1970-74, quando
também apareceu em países da Ásia, como Coréia (1971) e Índia (1972).
Foi durante esta década que apareceram muitas comunidades
carismáticas(19) . Os países onde elas inicialmente floresceram foram os
Estados Unidos, França e Austrália. Delas as mais influentes foram:
Word of God, Ann Harbor, Michigan (EUA); People of Praise, South Bend,
Indiana (EUA); Aleluia, Augusta, Geórgia (EUA); Emmanuel, Brisbane
(Austrália); Emmanuel, Paris (França); Chemim Neuf, Lyon (França); e
Leão de Judá (mais tarde chamada de Beatitudes), Cordes (França). Essas
comunidades tornaram-se responsáveis por organizarem muitos dos serviços
da Renovação, tais como retiros, congressos e revistas de divulgação,
onde destacam-se: a New Covenant (EUA), Il Est Vivant (França) e Feu et
Lumière (França)(20).


Entre 1980-90 a Renovação Carismática ampliará suas relações com a
hierarquia, durante este período haverá um esforço de aproximação entre
os diversos países e a consolidação de organizações nacionais e
internacionais.


Na década seguinte, marcada pela mudança de regime político do leste
europeu, surgiram muitos grupos de oração nos países que compunham a
antiga União Soviética. Também na África, Ásia e América Latina, muitos
países têm registrado um crescimento da Renovação. Filipinas, Brasil e
México estão entre os países com o maior número de participantes e
grupos de oração.





3.2 Tamanho






David Barret e Tood Johnson, em um amplo levantamento quantitativo,
realizado entre os anos de 1995 e 2000, apresentaram a expansão da
Renovação Carismática, desde seu surgimento em 1967, com as primeiras
reuniões de oração, até mais recentemente no ano 2000, com sua ampla
difusão mundial (Tabela 1)(21) .

























































































































Tabela 1. Crescimento numérico da Renovação Carismática Católica, 1967-2000.







Participantes



%



Ano



No G.O



Semanal



Mensal



Anual



Envolvidos



Famílias



Comunidade



Cat.



1967



2



Primeiros Grupos de Oração Carismáticos formados nos Estados Unidos



0,0



1970



2.185



238.500



500.000



1.000.000



1.600.000



2.000.000



2.000.000



0,3



1973



3.000



900.000



2.000.000



3.500.000



5.000.000



7.000.000



8.000.000



1,1



1975



4.000



1.995.730



3.000.000



6.000.000



9.000.000



11.000.000



15.000.000



2,7



1980



12.000



3.000.000



4.771.390



7.700.000



16.000.000



30.000.000



40.000.000



5,0



1985



60.000



4.200.000



7.547.050



12.000.000



22.000.000



40.100.000



63.500.000



7,3



1990



90.000



7.000.000



10.100.000



17.000.000



30.000.000



45.000.000



85.000.000



9,2



1995



127.000



11.000.000



14.000.000



20.000.000



34.000.000



60.000.000



104.900.000



10,4



2000



148.000



13.400.000



19.300.000



28.700.000



44.300.000



71.300.000



119.900.000



11,3










A tabela indica que em 1970 já haviam grupos de oração em 25 países e
em 1975, em 93. No ano de 2000 a Renovação Carismática encontrava-se
presente em 235 países, por onde se distribuíam cerca de 148.000 grupos
de oração.


Nesta pesquisa os participantes foram divididos em seis categorias:
“semanal”, “mensal”, “anual”, “envolvidos”, “famílias” e “comunidade”.
As quatro primeiras contabilizam pessoas adultas e as duas últimas
incluem também as crianças.


Na primeira categoria encontram-se os que comparecem semanalmente a
um grupo de oração, são considerados a “tropa de choque” da Renovação
Carismática e estavam estimados no ano 2000 em aproximadamente 13,4
milhões pessoas.


A categoria “mensal” identifica os que participam nas reuniões de
oração em uma ou mais vezes por mês, com aproximadamente 19,3 milhões de
pessoas, e a categoria “anual”, com aproximadamente 28,7 milhões de
pessoas, cobre os adultos com menos regularidade, que muitas vezes
participam somente durante um congresso ou grande evento anual.


Os classificados como “envolvidos” são os que se identificam perante a
opinião pública como católicos carismáticos, também são incluídos um
grande número de católicos de movimentos de renovação. Correspondem a
44,3 milhões de pessoas.


Incluindo adultos e crianças, foram ainda quantificadas a categoria
“família”, com um número 71,3 milhões de pessoas e a categoria chamada
de “comunidade”, onde são contabilizados católicos carismáticos ativos,
os que se tornaram irregulares ou menos ativos, os que atuam em outras
atividades ou se tornaram inativos, perfazendo um total de 119,9 milhões
de pessoas, o que representa 11,3% do total de católicos batizados.


Como podemos constatar, trata-se de um crescimento que não passa
despercebido, a Renovação é sem dúvida um dos maiores acontecimentos
religiosos da atualidade.


3.3 Organização






Desde o princípio, os integrantes da Renovação, para melhor promover
suas atividades, sentiram a necessidade de organizarem-se, contando para
isto com equipes de âmbito local, regional, nacional e internacional.
Essas equipes têm como função promover uma articulação entre suas
coordenações e garantir sua unidade.


O Grupo de Oração é a base da estrutura da Renovação Carismática.
Organizados geralmente nas paróquias e liderados por leigos, eles são
formados por um número variado de pessoas, em reuniões que acontecem
semanalmente.


Muitos dos grupos de oração deram origem às comunidades
carismáticas(22) , onde os laços de vida entre seus integrantes são mais
estreitos. Estas comunidades têm várias estruturas, vocações, formas e
graus de dedicação. Algumas delas foram muito importantes para o
desenvolvimento e propagação da Renovação.


Além de encontros nos grupos de oração, os membros da Renovação
Carismática se reúnem com alguma freqüência em encontros de oração, que
ocorrem nos fins de semana, na forma de retiros visando aprofundar o
conhecimento de Renovação e preparar novos líderes. Podem ser
organizados em âmbito paroquial, diocesano, etc. Igualmente, em média
uma vez por ano, ocorrem em cada Estado ou Diocese os Cenáculos que são
grandes encontros que reúnem milhares de pessoas em estádios de futebol,
ou ginásios esportivos, onde realizam-se dias de oração semelhantes aos
que ocorrem nos grupos de oração.


Assim, a Renovação criou uma organização interna que lhe dá um
elevado grau de maleabilidade: por um lado, cada grupo de oração goza de
grande autonomia, podendo realizar suas reuniões conforme as
necessidades específicas de seus membros; por outro, as equipes de
coordenação, atuando por meio das atividades auxiliares, garantem à
Renovação Carismática uma linha comum.(23)


Em Roma, a Renovação conta com um Escritório Internacional, que teve
como origem um centro de comunicação que surgiu em Ann Arbor, Michigan.
Esta cidade, tornou-se um centro de referência no início da Renovação
Carismática nos EUA e como relata Ralph Martin:


Logo começamos a receber correspondência e visitantes do mundo
inteiro. Um centro de comunicação internacional informal cresceu e
acabou sendo formalizado no início da década de 70, sendo chamado de ICO
(“International Communication Office” – Escritório Internacional de
Comunicação)(24).


Em 1976, o Cardeal Suenens convidou Ralph Martin para mudar-se para
Bruxelas na Bélgica. Indo para lá levou também o ICO, tornando-se o seu
primeiro presidente. Em 1978, o escritório passou a ser formado por nove
integrantes, que representavam os cinco continentes. Ao final deste ano
Pe. Tom Forrest passa ser seu novo presidente e em 1981 o ICO foi
transferido para Roma, passando a ser chamado de ICCRO (“International
Catholic Charismatic Renewal Office” – Escritório Internacional da
Renovação Carismática), tendo em sua presidência o Pe. Fio Mascarenhas
da Índia (1981-87), que foi sucedido pelo Fr. Ken Metz dos Estados
Unidos (1987-94).(25)


Através do ICCRO a Renovação sentiu a necessidade de solicitar à
Santa Sé um reconhecimento oficial. Após um lento e rigoroso trabalho,
realizado pelos membros do ICCRO e com o apoio de alguns bispos e
cardeais, foram apresentados os “Estatutos do ICCRO”, que depois de
analisados por teólogos e canonistas do Vaticano, passaram por alguns
ajustes e foram aprovados em 8 de julho de 1993 com o titulo de
“Estatutos ICCRS” (“International Catholic Charismatic Renewal Service” –
Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica)”, onde são
detalhados sua natureza, objetivos e estrutura.(26)


Em 14 de setembro de 1993, através do Pontifício Conselho para os
Leigos foi expedido o decreto de reconhecimento do ICCRS(27) . Do ano de
1994 até 2000, o ICCRS foi presidido por Charles Whitehead (Inglaterra)
e a partir de 2000 tem à sua frente Allan Panozza (Austrália)(28) .


O ICCRS reúne seus membros com freqüência para discutir e planejar a
Renovação em âmbito mundial. Realiza retiros e encontros internacionais,
mantém um site na internet(29) e publica o "Boletim do ICCRS", com
notícias e material de formação em inglês, francês, italiano, espanhol e
português.


Outra organização internacional importante é a CFCCCF ("Catholic
Fraternity of Charismatic Covenant Communities and Fellowships" -
Fraternidade Católica das Comunidades de Aliança e Vida). Composta por
mais de 50 comunidades espalhadas pelo mundo, teve em novembro de 1990,
seus Estatutos reconhecidos pelo Pontifício Conselho para os Leigos.
(30)


Na América Latina, sediado atualmente na cidade do México, há o
CONCCLAT (Conselho Carismático Católico Latino Americano), um organismo
continental criado em 1972 que tem como objetivo promover o intercâmbio e
refletir sobre a experiência da Renovação Carismática nos ambientes
culturais católicos latino-americanos. Através do CONCCLAT acontece a
cada dois anos o ECCLA (Encontro Carismático Católico Latino Americano).


Ao mesmo tempo em que se estruturava no plano internacional, a
Renovação também se organizava em âmbito nacional (vide RCC no Brasil)










Legenda






1-Síntese realizada a partir da obra de VOLCAN, Marcos Dione Ugoski.
Renovação Carismática Católica: uma leitura teológica e pastoral. Tese
de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
2003.


2-"Épocas caracterizadas por manifestações particularmente intensas
de dons e operações do Espírito." (CANTALAMESSA, Raniero. O Canto do
Espírito. Meditações sobre o "Veni Criator". 3. ed. Petrópolis: Vozes,
1998, p. 189).


3-MUHLEN, Heribert. Fé cristã renovada: carisma, Espírito, libertação. São Paulo: Edições Loyola, 1980, p. 6.


4-Cf. FORTE, Bruno. A Igreja ícone da Trindade: breve eclesiologia.
São Paulo: Loyola, 1987, p.13. (Coleção Vaticano II - Comentários - 3).


5-Tradução portuguesa: Sobre o Espírito Santo. 2a. ed. Petrópolis:
Vozes, 1946. (Coleção Documentos Pontifícios V) - Alguns autores, fazem
referência à influência que uma italiana, Irmã Elena Guerra, teria tido
na publicação desta encíclica. A religiosa foi fundadora, em Lucca,
Itália, das Irmãs Oblatas do Espírito Santo. Aos cinqüenta anos
sentiu-se inspirada em escrever ao Papa Leão XIII, instando-lhe que
renovasse a Igreja através da promoção de um retorno ao Espírito Santo.
Entre os anos de 1895 e 1903 lhe escreveu 12 cartas onde também sugere
que estabeleça uma devoção em toda a Igreja como um "permanente e
universal Cenáculo". Além da publicação da referida encíclica, em 1o de
janeiro de 1901, Leão XIII dedicou o século XX ao Espírito Santo,
entoando em nome de toda Igreja o hino Veni Creator Spiritus. (Cf.:
CANTALAMESSA, Raniero; GAETA, Saverio. O sopro do Espírito. São Paulo:
Paulus e Editora Ave-Maria, 1998, p. 15-16; CHAGAS, C. Op. cit. p. 11;
MANSFIELD, P. G. Op. cit. p. 8-10).


6-CHAGAS, Cipriano, OSD. A descoberta do Espírito e suas implicações
para uma transformação eclesial – um estudo sobre a Renovação
Carismática. Tese de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro, RJ, 1976, p.11.


7-SANTANA, Luiz Fernando. O Espírito Santo e a Espiritualidade Cristã. Rio de Janeiro: Edições Bom Pastor, 1999, p. 3-4.


8-"Em seu breve pontificado, Ângelo Roncalli (1881-1963) provocará
uma guinada histórica no catolicismo, com o seu testemunho de bondade,
com seu espírito de diálogo e com a imprevisível convocação do Concílio
Vaticano II." (DE FIORES, Stefano. A "nova" espiritualidade. São Paulo:
Editora Cidade Nova/Paulus, 1999, p. 31).


9-CODINA, V. Creo em el Espíritu Santo - Pneumatologia narrativa. Espanha: Sal e Terrae, 1994. p. 51).


10-SANTANA, L. F. Op. cit. p. 41.


11-SUENENS, L. J. O cardeal Suenens opina sobre a Renovação
Carismática. In. ALDUNATE, C. et al. A experiência de Pentecostes. A
Renovação Carismática na Igreja Católica. 5. ed. São Paulo: Edições
Loyola, 1986, p. 40.


12-RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. A identidade da RCC. São José dos Campos: FUNDEC, s/d, p. 12.


13-Entre as obras que irão documentar os fatos referentes ao retiro, e
a partir das quais se multiplicarão os estudos sobre a Renovação,
destacam-se duas: a primeira de Kevin e Dorothy Ranaghan, publicada em
1969 e traduzida para o português em 1972, traz os relatos e testemunhos
daqueles que participaram dos eventos iniciais da Renovação. Para os
autores o “Fim de Semana de Duquesne” foi “um dos mais notáveis
acontecimentos na história do movimento pentecostal no mundo.”
(RANAGHAN, K.; RANAGHAN, D. Católicos Pentecostais. São Paulo: O. S.
Boyer, 1972, p. 33); a segunda, do Pe. Edward O’Connor, professor de
teologia na Universidade de Notre Dame (South Bend, Indiana), publicada
em 1971, procurou, não só descrever os acontecimentos, mas também, à luz
da tradição católica e cronologicamente muito próxima dos fatos, fazer
uma análise teológica sobre a Renovação Carismática. (O’CONNOR, Edward.
D. The Pentecostal Movement in the Catholic Church. Notre Dame: Ave
Maria Press, 1971).


14-MANSFIELD, Patti Gallagher. Como um novo Pentecostes: relato
histórico e testemunhal do dramático início da Renovação Carismática
Católica. 3. ed. Rio de Janeiro: Edições Louva-a-Deus, 1995, p. 3.


15-Idem, p. 65-68.


16-HÉBRARD, Monique. Os carismáticos. Porto: Editora Perpétuo Socorro, 1992, p. 9.


17-Cf. SUENENS, Cardeal León Joseph. Movimento Carismático: um novo pentecostes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1996, p. 84.


18-Cf. CHAGAS, Dom Cipriano. Op. Cit. p. 37; Cf. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. Temas e Conferências, 1981, p. 2.


19-Sobre Comunidades Carismáticas ver: SMET, Walter. Comunidades
Carismáticas. O testemunho insólito da renovação cristã. São Paulo:
Edições Loyola, 1987; CORDES, Paul Joseph. Reflexões sobre a Renovação
Carismática Católica, São Paulo: Edições Loyola, 1987, p. 74-77;
SUENENS, L. J. Op. cit.; ANGE, Daniel. A Renovação, primavera da Igreja.
São Paulo: Edições Loyola, 1999, p. 55-58; BURGESS, S. M. (Ed.).
Burgess, Stanley M. (Editor). New International Dictionary or
Pentecostal and Charismatic Movements. Michigan: Zondervan Grand Rapids,
2002, p. 473-76.


20-Cf. HOCKEN, P. The Catholic Charismatic Renewal. In.: SYNAN,
Vinson. Century of the Holy Spirit. 100 years of pentecostal and
charismatic renewel - 1901-2001. Nashville: Thomas Nelson Publishers,
2001, p. 219.


21-A pesquisa foi realizada através de questionários enviados pelo
Escritório Internacional da Renovação Carismática Católica aos
coordenadores ou equivalente em cada país do mundo. Um pequeno
questionário com 7 perguntas, que tiveram suas respostas devolvidas por
fax, e-mail e reforçadas com informações adicionais [Cf. BARRET, David;
JOHNSON, Tood. The Catholic Charismatic Renewal, 1959-2025. In: PESAR,
Oreste (Org.) “Then Peter stood up...”. Vatican City: ICCRS, 2000, p.
117-124].


22-Cf. BLAQUIÈRE, Georgette. Pentecostes é hoje: os grupos de oração
da Renovação Carismática. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1993, p. 11-13.


23-Cf. OLIVEIRA, Pedro Ribeiro et al. Renovação Carismática Católica.
Uma análise sociológica. Interpretações Teológicas. Petrópolis:
Vozes/INP/CERIS, 1978, p. 22.


24-BOLETIM do ICCRS. v. 23, n. 1, p. 3, jan.-fev. 2002. Mais precisamente em 1972 [Cf. BURGESS, S. M. (Ed.). Op. cit. p. 462].


25-Cf. BOLETIM do ICCRS, Idem. Ibid.


26-Cf. ALDAY, Salvador Carrillo. Renovação Carismática: um pentecostes hoje. São Paulo: Paulus, 1996, p. 5-6.


27-Reconhecendo o ICCRS como: “um corpo para a promoção da Renovação
Carismática Católica, com personalidade jurídica”, segundo o Cânone 116
do Código de Direito Canônico (Pontificium Consilium pro Laicis. 1565/93
AIC-73).


28-Allan Panozza foi nomeado pelo então Papa João Paulo II, como
membro do Pontifício Conselho para os Leigos (Conforme notícia divulgada
em 25 de fevereiro de 2002, pela Secretaria de Imprensa da Santa Sé), o
que teve uma repercussão importante para a Renovação Carismática (Cf.
BOLETIM do ICCRS. v. 28, n. 2, p. 4, mar.-abr. 2002).


29-http://www.iccrs.org


30-Esta foi a primeira do gênero a ser reconhecida pelo Vaticano como
associação privada de fiéis (Cf. HÉBRAD, D. Op. cit. p. 49). Para João
Paulo II o ICCRS também deveria cumprir o papel de ser “uma organização
cuja tarefa é coordenar e encorajar uma troca de experiências entre
comunidades católicas e carismáticas do mundo inteiro.” (Cf. BOLETIM do
ICCRS. v. 28, n. 2, p. 5, mar.-abr. 2002).





Fonte: http://www.rccbrasil.com.br/interna.php?paginas=42




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